quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Primeira experiência - 6 de agosto de 2011

Há momentos na vida em que nos vemos fazendo algo que nos trará muito orgulho depois. Há momentos na vida em que apenas devemos observar. Há momentos na vida que são simplesmente inesquecíveis.

Sábado, 6 de agosto de 2011.

De repente estava me vendo ao lado de mais quatro amigos distribuindo abraços pelo centro de São Caetano do Sul. Estávamos todos vestidos de palhaços, com maquiagens em nossos rostos e roupas coloridas. Mas o que eu estava fazendo ali, no alto de minha timidez, tentando me aproximar de estranhos na rua?

A história toda começou com um convite de minha colega de teatro Luiza quando refletíamos sobre nossos tempos de hoje. Tempos em que as pessoas se distanciam cada vez mais umas das outras no dia-a-dia.
A intenção era sairmos vestidos de palhaços, com mais alguns colegas de teatro, nas ruas de São Caetano do Sul distribuindo abraços. Uma ideia bem ousada. Do que jeito que eu gosto, aceitei na hora.

De manhã, nos encontramos na Cidade das Crianças ali na Av. Presidente Kennedy. Nos maquiamos e nos fantasiamos com a figura mágica do palhaço. Estava iniciada nossa jornada que atingiria seu ápice no Centro de São Caetano.

Pelo caminho, fomos abraçando alguns moradores como uma forma de aquecimento, digamos. Pegamos o ônibus Gerty Circular e seguimos em direção ao nosso objetivo.

O que eu posso falar dos abraços? Posso falar que morri de vergonha no começo. Minha vontade era fugir. Mas jamais faria isso, jamais abandonaria meus colegas dessa forma. Continuaria mesmo se não estivesse nem um pouco relaxado. E não estava nem um pouco, confesso.

Mas são nessas horas que devemos apenas observar. São nessas horas que percebemos o que é a vida e qual o sentido dela. É nessas horas que devemos admirar certa estrela alheia brilhar.
Luiza, a grande responsável por estarmos ali, tomou a dianteira, parou as pessoas na rua e cobrou os abraços, deu a cara pra bater mesmo, foi ignorada muitas vezes. E isso foi demais! Não o fato de ela ter sido ignorada, mas sim dela ter seguido adiante batendo seu coração contra vários muros. 

Apenas observei. Apenas admirei. E só assim, quase ao fim de tudo, me motivei.
A partir de então pude fazer o mesmo: ser incentivado, receber elogios, ser ignorado, receber carinho. Tudo ao mesmo tempo. Demais!

Lembro de uma menininha que vendia balas que nos parou e perguntou o porquê de estarmos fazendo aquilo. E pra ser sincero, eu é que queria saber o porquê dela estar ali naquela situação. Queria saber o porquê dela e de outras crianças estarem trabalhando com aquela idade. Bem, infelizmente eu sabia a resposta. Só não sei se tudo isso mudará algum dia...

Lembro também de termos abraçado uma senhora que pedias esmolas no chão expondo suas feridas na perna. Foi um dos momentos mais gratificantes do dia. Foi um dos “obrigado” mais sinceros que ouvimos.
Teve momentos engraçados também. O maior mico meu foi tentar abraçar um catador de latinhas e ele sair correndo de medo. Correndo mesmo, sem metáforas.

Creio que descobrimos um lado da cidade que é desconhecido de grande parte dos sulsancaetanenses. Incluindo a mim e a meus colegas de grupo também.

Posso dizer que as pessoas que mais se identificaram conosco foram as crianças e os mais idosos. 
Curioso. As pessoas mais próximas das extremidades da vida humana eram aquelas que mais estavam dispostas a receber nossos abraços. O motivo exato eu não sei. Mas posso imaginar. Crianças e idosos devem saber valorizar muito mais as pequenas coisas da vida do que os adultos que atuam como reféns na dinâmica dos tempos atuais.

Quase no final, ainda participamos da gravação de um vídeo para um concurso cultural de uns conhecidos nossos que encontramos na Estação Jovem.

Depois disso já estava exausto. Não tinha idéia de quão orgulhoso ficaria de mim mesmo e de meus amigos por causa daquele dia. Sabia que a ficha ia cair só depois. E creio que ela caiu agora, enquanto termino esse texto.

Só sei que estava muito feliz por estar vivenciando tudo aquilo e por ter pessoas tão especiais ao meu lado. Tenho de agradecer aos meus amigos palhaços por me proporcionarem um dia tão inesquecível. Mas é claro que eu quero mais. Claro que queremos mais. O céu é o limite, não é mesmo?

Ah, esqueci de apresentar o nome do nosso grupo:

Prazer, nós somos os Palhaços Carentes!












Texto adaptado de http://rondinely92.blogspot.com/2011/08/palhacos-carentes.html


Um comentário:

  1. É uma dádiva de Deus estar ao lado de jovens com esta sensibilidade... PARABÉNS pela CORAGEM e OUSADIA !!

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